Zipper Galeria Apresenta Individuais De Camille Kachani E Julia Pereira

De 16 de outubro a 20 de dezembro, a Zipper Galeria abre suas portas para duas exposições individuais que dialogam com diferentes formas de memória e pulsão criativa. O artista Camille Kachani apresenta Uma Contra-História do Brasil, enquanto Julia Pereira estreia Rastro e Pulsão.
Em Uma Contra-História do Brasil, Kachani revisita criticamente o que se convencionou chamar de “história oficial” do país, propondo uma leitura a partir das margens — dos povos originários, africanos escravizados e fluxos europeus empobrecidos, cujas experiências foram em grande parte silenciadas. A mostra reúne 12 trabalhos inéditos, entre esculturas e objetos em técnica mista, que tensionam os limites entre natureza e cultura, mito e materialidade.
Entre as obras, Pindoretama (2025) transforma o “solo” em tecido ou bandeira, revelando disputas simbólicas; Pau-Brasil (2024) reflete sobre o tronco-mercadoria como mito de origem; e Contra-História do Brasil (2024) aproxima diversidade genética e ciclos de predação. Já as séries Desmapa I e II (2025) e Mundus Hodiernus I/II (2025) criam cartografias e mapas invertidos que questionam o olhar eurocêntrico, enquanto Brazilapopolo (2025) — “os povos do Brasil”, em esperanto — celebra a constituição mestiça do país.
Paralelamente, Rastro e Pulsão, de Julia Pereira, reúne pinturas que nascem do encontro entre desejo, amor, luto e vazio, e dos vestígios que essas forças deixam no corpo e na tela. “Pulsão” representa o impulso criador, a energia que move o gesto; “rastro” é sua inscrição no mundo — a marca visível dessa intensidade.
Resultado de uma residência artística em Lisboa (Luz_Air, 2025), a série reflete influências da luz, da cor e dos grafismos dos azulejos portugueses, integradas a lembranças pessoais. O retorno ao Brasil trouxe um movimento de rarefação: as cores tornaram-se mais porosas, as superfícies, mais silenciosas. Entre as obras, Dancing Ghosts evoca a memória de amantes que dançam sem música; a série Ecos explora cortes e simetrias que testam o que resiste quando a lembrança se apaga; e Protagonistas e Coexist condensam o gesto em grandes formatos.
Trabalhando a partir do chão e com pinceladas que funcionam como extensões do corpo, Julia constrói linhas “sismográficas” — ambidestras e instintivas — que registram o fluxo do inconsciente e o instante em que o gesto se torna imagem.
R. Estados Unidos, 1494 – Jardim America, São Paulo
Comentários estão fechados.