Quando A Alma Viaja Junto

Por Sabina Donadelli

 

Fecho os olhos e ainda posso sentir o aroma das oliveiras antigas sob o sol do Mediterrâneo, o perfume adocicado das uvas maduras ao entardecer, a brisa salgada do mar entrando pelas narinas como se limpasse a alma. Esta não foi uma viagem de compras, vitrines ou grandes cidades. Foi uma travessia interior, com os pés na terra e na história — literalmente.

Durante nossas férias pela Europa, com meu marido e nossos filhos adolescentes, escolhemos não seguir os roteiros tradicionais. Nosso mapa foi traçado pelas memórias dos ancestrais, pelas paisagens que falam mais ao coração do que à lógica, pelos caminhos em que a natureza é a protagonista. Viajamos por campos de oliveiras centenárias, vinhedos que contam histórias mais antigas que nós, montanhas que guardam silêncios preciosos e vilarejos que parecem ter parado no tempo só para nos receber.

Cada dia começava com uma caminhada — às vezes suave, às vezes desafiadora — em meio a paisagens que nos lembravam que o verdadeiro luxo é respirar ar puro, ver o nascer do sol sem pressa, mergulhar no mar sem destino. Foram dias de pés descalços na areia, de risadas em barcos que cortavam águas cristalinas, de silêncios partilhados em trilhas que pareciam levitar.

 

 

Sim, nos permitimos alguns jantares estrelados pelo Guia Michelin. Mas ali também a natureza se impunha: pratos que mais pareciam poesia sensorial, ingredientes colhidos ali mesmo, ao redor, preparados com maestria e respeito. O luxo de saborear o tempo. O prazer de comer com todos os sentidos.

E, entre tantas descobertas, há uma que me orgulha profundamente: voltei desses 30 dias de viagem com o mesmo peso com que parti. Aos 55 anos, sigo administrando com serenidade essa fase da vida, com o apoio da alimentação consciente e da movimentação gentil do corpo. Fiz jejuns leves em dias sem café da manhã no hotel, caminhei bastante em jejum, optei por pratos com peixes e legumes frescos, trocando massas e pães (que amo) por outras delícias que também me nutrem e me agradam. A sobremesa? Preferi o vinho ou a cerveja local. E, quando dividi uma ou outra doçura com meu marido, foi por puro prazer, não por impulso.

Porque não se trata de trocar o que se gosta pelo que não se gosta. É trocar o que se gosta por outras coisas que também se ama — e isso, sim, é liberdade.

Nos stories que postei ao longo da viagem, algumas frases nasceram do que sentíamos: “Sirva-se da brisa, do mar, da luz”, “Respirar também é nutrir”, “A natureza é uma mesa farta e gratuita.” Cada uma delas era um convite para que as pessoas se reconectassem com o essencial.

 

 

Essa foi uma viagem com alma. Uma jornada em que o corpo se movimentou, mas foi o espírito que dançou. Voltamos com a pele marcada pelo sol e pela água salgada, mas também com o coração mais leve, os olhos mais brilhantes e a certeza de que viver bem é, antes de tudo, viver com presença.

Que você também se permita esse tipo de travessia, mesmo que dentro da sua cidade, da sua rotina, do seu próprio silêncio. Porque viver mais, viver bem, é estar onde a alma se sente em casa.

Sabina Donadelli
Nutrindo vidas, potencializando histórias


Sabina Donadelli

Sabina Donadelli é nutricionista e aromaterapeuta, com especialização em Nutrição Clínica Funcional. Ao longo de sua carreira, dedica-se a integrar ciência e práticas milenares, promovendo o equilíbrio físico e emocional de seus pacientes.

Além de atuar na área clínica, Sabina também é criadora de conteúdo digital, onde compartilha conhecimento e reflexões sobre nutrição, saúde e autocuidado. Seu objetivo é inspirar seus seguidores a adotar um estilo de vida saudável e equilibrado.

Desde 2017, Sabina é membro da Academia Brasileira de Gastronomia, onde atualmente integra a diretoria. Sempre em busca de expandir seus conhecimentos, ela combina práticas culturais brasileiras com tendências contemporâneas, contribuindo para uma visão holística da alimentação e do bem-estar.

 

@sabinadonadelli

https://sabinadonadelli.com.br/

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